Espacios. Vol. 33 (1) 2012. Pág. 20


Mensuração do impacto da adoção de tecnologia de informação (TI) no desempenho organizacional de micro e pequenas empresas

Measuring the impact of the adoption of information technology (IT) on organizational performance of micro and small enterprises

Medición del impacto de la adopción de la tecnología de la información (TI) en el desempeño organizacional de las Micro y Pequeñas Empresas

Pietro Cunha Dolci, Carla Schwengber ten Caten, Guilherme Lerch Lunardi y Antonio Carlos Gastaud Maçada


4. Resultados

A análise descritiva permitiu identificar motivos que têm levado as MPE estudadas a adotarem a TI nos seus negócios (Tabela 2). As principais razões estão relacionadas principalmente aos fatores pressões externas (4,31) que a empresa enfrenta e à presença de um ambiente organizacional favorável (4,30) a sua adoção. Em relação ao fator pressões externas, constatou-se que a tecnologia vem sendo adquirida por muitas destas empresas devido à grande concorrência existente (4,61). O uso do computador nas MPE tem se difundido de forma muito rápida, o que tem possibilitado a vários pequenos empresários a utilização de diferentes ferramentas computacionais, vistas por alguns como um meio de se destacar frente a seus concorrentes, ou pelo menos se manter competitivo (KUAN e CHAU, 2001). Outro motivo com média bem elevada foi a influência exercida pelos clientes, fornecedores e governo (4,34) – este último porque vem exigindo o uso da tecnologia no pagamento de impostos de forma on line e ainda pela necessidade da geração de documentos fiscais, contábeis e legais que podem ser facilmente apresentados quando solicitados.

Com relação ao fator ambiente organizacional, destaca-se a exigência do negócio (4,79) como o principal motivo de adoção apontado pelas MPE, verificando-se uma grande dependência tecnológica das empresas com algum nível de informatização para o seu funcionamento. Cada vez mais a TI tem sido utilizada pelas MPE na realização de várias operações rotineiras, como o controle e a consulta de produtos e estoques, as vendas e o próprio cadastro de informações sobre os clientes. Além de o negócio exigir, apontaram a existência de uma estrutura organizacional adequada (4,33) como outro motivo de adoção da TI. A competência técnica da organização para lidar com a tecnologia é essencial para a sua adoção e principalmente para garantir o sucesso do seu uso (Kuan e Chau, 2001). Não basta apenas adquirir TI, devem ser levadas em conta as características da organização quanto a sua disponibilidade de recursos financeiros (para compra e manutenção), pessoal de apoio e com conhecimento adequado, além do tempo a ser dedicado na sua implantação e no aprendizado dos funcionários para a sua utilização de forma mais extensa e efetiva. A boa nova para as pequenas empresas é que hoje existem opções de treinamento e capacitação para diferentes necessidades quanto a preferências ou limitações financeiras – desde as modernas soluções de e-learning, nas quais o operador do sistema recebe micro-aulas no seu computador pessoal, até os tradicionais cursos de capacitação oferecidos por escolas e instituições (Lima, 2007).

Chamou atenção o fato do fator utilidade percebida representar o fator que menos orienta a adoção da TI (3,62) entre as micro e pequenas empresas. Parece que os benefícios que a TI pode proporcionar a estas empresas ainda não são totalmente claros para os pequenos empresários, principalmente quando decidem pela adoção de uma determinada tecnologia. Percebe-se que em muitos casos a decisão pela sua adoção não é feita para apoiar a direção estratégica da organização e nem mesmo é baseada em critérios econômicos, o que certamente deve afetar as expectativas dos executivos quanto ao impacto da TI no resultado da empresa (Salmeron e Bueno, 2006).

De modo a analisar o relacionamento entre o motivo da adoção da TI e o desempenho organizacional das micro e pequenas empresas, foram definidas como variável dependente o indicador global do desempenho organizacional que agrupou os quatro indicadores de desempenho (redução de custos, aumento das vendas, aumento da produtividade e aumento de mercado), e como variáveis independentes os fatores relacionados com o motivo da adoção de TI (utilidade percebida, necessidade interna, pressões externas e ambiente organizacional).

Tabela 2. Análise descritiva dos fatores e itens secundários

Itens

N

Média

Desvio

Padrão

Pressões Externas (PE)

122

4,31

0,82

PE 1 - Grande concorrência existente

121

4,61

0,89

PE 2 - Influência dos clientes, fornecedores e/ou governo

121

4,34

1,05

PE 3 - Concorrentes também têm adotado

122

3,99

1,22

Ambiente Organizacional (AO)

122

4,30

0,66

AO 1 - Funcionários com condições de utilizá-la

121

4,19

1,12

AO 2 - Exigência do negócio

121

4,79

0,44

AO 3 - Estrutura organizacional adequada

121

4,33

0,94

AO 4 - Ambiente favorável à sua utilização

121

3,88

1,19

Necessidade Interna (NI)

122

3,71

1,02

NI 1 - Se manter atualizada tecnologicamente

122

3,59

1,37

NI 2 - Atender melhor as suas necessidades

122

4,25

1,00

NI 3 - Garantir o bom funcionamento da empresa

122

3,30

1,39

Utilidade Percebida (UP)

122

3,62

0,89

UP 1 - Realizar tarefas específicas mais rapidamente

122

3,25

1,40

UP 2 - Melhorar o atendimento aos clientes

121

3,50

1,36

UP 3 - Aumentar a sua competitividade

121

3,87

1,04

UP 4 - Realizar suas atividades com maior segurança

121

3,86

1,08

A partir dessas constatações, a seguir são apresentados os 4 modelos de mensuração.

4.1 Modelo 1

            O primeiro modelo (Figura 2, Quadro 2) indica que os 14 itens secundários são reflexivos de uma variável dependente (desempenho organizacional), o que caracteriza ser um fator de primeira ordem. Todos os índice de ajustamento não atenderam aos critérios, caracterizando-se como um modelo pobre. Esses índices de ajustamento inadequados indicam as consequencias adversas de combinar variáveis de vários itens secundários de conhecimento em uma única variável de primeira ordem desempenho organizacional. Além disso, combinar itens que representam aspectos diferentes de um mesmo construto é conceitualmente e metodologicamente perigoso (Koufteros et. al. 2009).

Figura 2 – Modelo 1: Um  fator de primeira ordem

4.2 Modelo 2

            O segundo modelo (Figura 3) postula 4 fatores (utilidade percebida, ambiente organizacional, pressões externas e necessidade interna) não correlacionados que estão relacionadas com os respectivos itens secundários (por exemplo, NI1, NI2 e NI3 relacionados ao fator necessidade interna). A relação entre os fatores não correlacionados deve ser esperado que produza um modelo com índices de ajustamento considerados fracos, como pode ser observado no Quadro 2 (Koufteros et. al. 2009). Em situações em que os fatores são pobremente correlacionados, essa espeficicação pode ser apropriada, o que não é o caso nesta pesquisa, onde existe uma correlação média entre os mesmos. Cabe ressaltar neste modelo que as cargas fatoriais dos fatores estão dentro do aceitável, variando de 0,53 a 0,89.

Figura 3 – Modelo 2: Quatro fatores não correlacionados

4.3 Modelo 3

O modelo 3 (Figura 4, Quadro 2) é similar ao Modelo 2 exceto pelo fato de que os fatores estão correlacionados. Os índices de ajustamento desse modelo são aceitáveis. Entretanto, existe correlações fortes entre os fatores, devendo-se aceitar e preferir esse modelo apenas quando existirem correlações moderadas (Koufteros et. al. 2009).

Figura 4 – Modelo 3: Quatro fatores correlacionados

4.4 Modelo 4 –Segunda ordem

O modelo 4 consiste em estruturar os motivos da adoção (fatores) com a variável dependente desempenho organizacional. Foi identificada as relações de regressão (coeficientes) entre os motivos de adoção (fatores) e a variável desempenho organizacional, e também as cargas fatoriais de cada um dos itens secundários nos seus respectivos fatores. Na figura 5 está expresso o modelo 4 de segunda ordem e no Quadro 2, pode-se observar os indices de ajustamento do modelo 4.

Figura 5 – Modelo 4: Quatro fatores de 1ª ordem e um de 2ª ordem

Com o objetivo de melhorar o Modelo 4, elaborou-se um refinamento nas variáveis que demonstravam valores abaixo dos limites estabelecidos (NFI e CFI), o que melhorou os índices de ajustamento do modelo sem perder o seu poder explicativo, sendo este considerado o modelo estrutural final dessa pesquisa. Na Figura 6 e Quadro 2 estão ilustrados o modelo final e os índices de ajustamento de todos os modelos propostos. Apenas um índice de ajustamento, o NFI, ficou abaixo do limite estabelecido (0,9), mas valores abaixo desse limite têm sido utilizados na literatura de sistemas de informação, como por exemplo, nos trabalhos de Beltrame (2008) e To et al (2008), que utilizaram NFI acima de 0,8 como aceitáveis.

Figura 6 – Modelo 4 Final: Quatro fatores de 1 ª ordem e um de 2ª ordem

Quadro 2 – Índices de ajustamento dos modelos investigados

Indices de ajustamento para os modelos investigados

Modelos de Mensuração

Modelo 1 – Um fator de 1ª Ordem

Modelo 2 – Quatro fatores de 1ª ordem não correlacionados

Modelo 3 - Quatro fatores de 1ª ordem correlacionados

Modelo 4 – Quatro fatores de 1ª ordem e um de 2ª ordem

Modelo 4 Final – Quatro fatores de 1 ª ordem e um de 2ª ordem

Qui-Quadrado (df)

257,069 (77)

188,722 (77)

106,029 (71)

257,566 (115)

75,823 (62)

Qui-Quadrado/DF

(<=3)

3,339

2,451

1,493

2,24

1,223

Normed Fix Index (NFI>=0,9)

0,456

0,600

0,776

0,616

0,823

Comparative Fix Index (CFI>=0,9)

0,510

0,696

0,905

0,724

0,959

Raiz do Erro Quadrático Médio de Aproximação (RMSEA<=0,1)

0,14

0,11

0,06

0,1

0,04

A partir do Modelo 4 final, pode-se observar na Figura 6 que o maior impacto no desempenho organizacional é provocado pelo fator necessidade interna (1,03), seguido do fator utilidade percebida (0,68). No fator necessidade interna, identificou-se que o item secundário atender melhor suas necessidades (NI1=0,81), especialmente as operacionais, apresenta o maior impacto dentro do fator.

Em relação ao desempenho organizacional, a participação no mercado, não foi um fator relevante no desempenho organizacional das MPE analisadas e foi retirado do modelo. Entretanto a produtividade, mesmo apontando valor baixo de carga fatorial (0,34) permaneceu no modelo, pois diversos estudos apontam a produtividade como o elemento determinante do desempenho organizacional pela adoção de TI (Adamides e Karacapilidis, 2006; Badescu e Garcés-Ayerbe, 2009).

5. Considerações Finais

Nesta pesquisa foi explorado o relacionamento existente entre os motivos que levam as micro e pequenas empresas a adotarem TI e seu impacto no desempenho organizacional. Os motivos levatandos na literatura e validados com gestores das MPE: utilidade percebida, necessidade interna, pressões externas e ambiente organizacional foram analisados com o objetivo de verificar o seu impacto no desempenho expresso pela redução dos custos, aumento de produtividade, aumento de mercado e aumento das vendas.

As pressões externas e o ambiente organizacional aparecem como os principais motivadores, especialmente pela exigência dos negócios e pela grande concorrência existente. Além disso, os executivos das MPE têm percebido que para suas organizações poderem competir no mercado onde atuam, necessitam da TI.

Quanto ao relacionamento existente entre os motivos da adoção de TI e seu impacto no desempenho organizacional, utilizou-se a modelagem de equações estruturais e o paradigma do Modelo de Segunda Ordem de Koufteros et. al. (2009).

Foram propostos 4 modelos de quatro modelos de mensuração: o Modelo 1 consistiu em apenas um fator de primeira ordem; o Modelo 2 consistiu em quatro fatores de primeira ordem sem correlação; o Modelo 3 consiste em quatro fatores de primeira ordem correlacionados e por fim, o Modelo 4 consiste em quatro fatores de primeira ordem e um fator de segunda ordem. Para cada modelo, foram calculados 4 índices de ajustamento: qui-quadrado sobre os graus de liberdade, o Normed-fit index, o Comparative fit index e o Root Mean Square Error of Approximation.

 Dos quatro, o modelo 3 e o modelo 4 refinado apresentaram os melhores índices de ajustamento. Em relação ao modelo 3, cabe ressaltar, que do ponto de vista da literatura, fica evidente a necessidade da inclusão de um fator de segunda ordem (Koufteros et. al. 2009), ou seja, a possibilidade de calcular o impacto dos quatro fatores (agrupamento dos itens secundários) na variável dependente desempenho organizacional, como é proposto no modelo 4.  Sendo assim, o modelo 4 refinado foi escolhido como o modelo estrutural dessa pesquisa para analisar o impacto do motivo da adoção da TI no desempenho organizacinoal em MPE.

A partir do Modelo 4 final, pode-se observar que o maior impacto no desempenho organizacional é provocado pelo fator necessidade interna (1,03), seguido do fator utilidade percebida (0,68). Um ponto importante determinado na pesquisa foi que mesmo os gestores das MPE perceberem que o maior motivo de adoção de TI é a pressão externa – concorrentes, governo e clientes, foi identificado que esse fator não impacta significativamente no desempenho organizacional, não fazendo parte do modelo 4 final. Isso pode ser explicado uma vez que algumas empresas adotam TI sem mesmo analisar o seu ambiente o que ocasiona um baixo impacto no seu desempenho organizacional.

Os resultados e as implicações obtidas neste estudo devem levar em conta alguns cuidados no que diz respeito, especialmente, à amostra estudada, a qual foi selecionada de uma base de dados de MPE localizadas em um único município brasileiro, restringindo, portanto, sua possibilidade de generalização. Espera-se que esta pesquisa possa auxiliar os executivos de diferentes MPE a melhor planejarem seus investimentos realizados em projetos de TI, sem esquecer que muito do sucesso da implantação de uma tecnologia passa pela estrutura que a organização possui e pela identificação dos benefícios esperados, riscos e custos envolvidos em sua adoção. Dessa forma, a TI poderá exercer impacto ainda maior no desempenho dessas organizações, justificando assim a realização de tais investimentos. E como pesquisas futuras, sugere-se realizar pesquisas quantitativas em amostras maiores em diferentes cidades e estados brasileiros com o objetivo de determinar os motivos que levam as MPE brasileiras e adotarem TI e qual o seu impacto no desempenho organizacional.

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